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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Alfabetização Precoce aos 6 anos na Escola,.... por Osvino Toillier (Jornal NH, edição de quinta-feira,14 de janeiro de 2010, p. 12)


"Alfabetização Precoce" por Osvino Toillier

         A implantação do ensino fundamental de 9 anos está ensejando medidas esdrúxulas por parte de escolas, implantando inovações muito ao gosto de pais que desejam ver seus filhos alfabetizados o mais cedo possível, mesmo que seja aos 3 anos de idade, como está acontecendo em São Paulo. O assunto mereceu ampla reportagem nos jornais, registrando que crianças estão sendo submetidas a conteúdos e temas de casa, como se estivessem nas séries iniciais do ensino fundamental.

         Especialistas alertam para o risco de crianças não estarem prontas. Afirmam que a "alfabetização aos seis anos não foi criada à toa. Antes disso, se cria tensão desnecessária para a vida da criança". Do outro lado, estão escolas que não se conformam mais com o paradigma do último século, quando idade para aprender a ler e escrever está entre os 6 e 7 anos. Antes disso, "é tempo de brincar, explorar os sentidos, desenvolver a coordenação motora e interagir com outras crianças". A boa educação infantil, "por esse viés, é a que propicia esssas descobertas de maneira lúdica e estimulante". Os defensores da alfabetização precoce amparam-se no argumento da velocidade do mundo, com computadores e videogames estimulando as crianças ao universo letrado mais cedo.

         Pois bem, argumentos antagônicos à parte, é preciso olhar para a criança e sua natureza que requer espaço e tempo para viver a infância na plenitude e elaborar o mundo a partir do brinquedo espontâneo e com estímulos adequados ao seu tempo. A clássica frase "nada mais sério do que uma criança brincando" deve estar presente nesta realidade em que se tenta, por conta de estratégia de marketing educacional e não poucas, atendendo a expectativas de pais, encurtar a infância para antecipar uma vida repleta de compromissos com separação de disciplinas, lição de casa e cobrança de desempenho.

         Encurtar a infância com o argumento de preparar a criança, desde cedo, para os desafios do mundo contemporâneo, senão criminoso, é, no mínimo, totalmente insensato e descabido, porque compromete o tempo da infância, tão necessário para a fantasia, o brinquedo, desenvolvimento da imaginação livre, sem ter o adulto cobrando tarefas, impostas pela escola, que podem perfeitamente ficar para mais tarde.

         A velocidade é uma das características do nosso tempo e tende à aceleração na vida da pós-modernidade, mas querer transferi-la para antecipar etapas na vida da criança é um absurdo inaceitável. É necessário, também, o adulto, de vez em quando, parar de andar no ritmo do coração e viver a vida com a beleza que ela tem e não deixar-se plugar permanentemente, como se não tivesse outro jeito de viver.

         Não me surpreende que, cada vez mais, haja crianças precisando de auxílio de terapeutas por conta de problemas de concentração ou hiperatividade, consequência dessas loucuras a que estão sendo submetidas desde cedo, retirando-lhe tempo de brincar, brincar e brincar, forma própria de compreender e elaborar a vida. É por isso que Froebel concebeu "jardim de infância.

Osvino Toiller é professor, escritor e presidente do SINEPE/RS